segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

TEXTO: a (trans) formação da arte através da tecnologia

(artigo publicado na revista ímpar (ano 2, nov/2006, n°19, p. 64))

A (TRANS) FORMAÇÃO DA ARTE ATRAVÉS DA TECNOLOGIA

Sabemos que o tema tecnologia tem direcionado debates e discussões em diferentes campos do conhecimento: da indústria a educação, da medicina a arte. Seu surgimento, sua rápida expansão e desenvolvimento causaram, e causam, transformações significativas no ser humano e em toda a sociedade.

Ao longo da última década, passamos a nos envolver cada vez mais com os recursos tecnológicos, fazendo deles uma extensão de nossos pensamentos. Presenças constantes e atuantes de máquinas e aparatos tecnológicos no nosso cotidiano tornaram-se comuns. Hoje é difícil imaginar a realização de uma série de atividades habituais sem esses recursos há disposição.

No campo das artes não seria diferente. As tecnologias vêm, cada vez mais, aumentando o seu controle sobre o mundo das imagens, desde seu processo de produção, reprodução, conservação e difusão. As artes visuais, antes classificadas como belas-artes (“belas” implicando não só a beleza da forma visível, mas a superioridade, a perfeição e a ausência de finalidades utilitárias, apoiadas e apreciadas exclusivamente por alguns indivíduos e grupos) começam a se relacionar com o fenômeno da reprodutibilidade técnica, incentivado pela tecnologia.

Artistas iniciam uma apropriação intensiva de recursos tecnológicos disponíveis, tais como: câmeras, projetores, impressoras, satélites, entre outros capazes de reproduzir, gravar, editar, replicar, manipular, disseminar imagens e informações de uma forma economicamente barata, de fácil acesso, seriados e de distribuição rápida. Esta comunicação massiva deu início a um processo que estava destinado a se tornar cada vez mais absorvente: a hibridização das formas de comunicação e cultura.

A arte passa a ser democratizada, acessada não apenas em lugares privilegiados como galerias e museus, mas em locais nos quais podia ser vista por todos, apropriando-se dos meios de comunicação para sua produção e divulgação. Ao fazerem o uso dessas novas tecnologias, em busca do experimentalismo nas artes, os artistas expandiram o campo das artes para outras áreas, tais como: desenho industrial, publicidade, cinema, televisão, moda, vídeo, computação gráfica e etc.

A “nova arte”, que surge com essa entrada de novas técnicas, promove uma grande desestruturação nas práticas artísticas decorrentes do abandono de técnicas tradicionais como a pintura, o desenho e a escultura; do afastamento de idéias de arte como mercadoria e da reavaliação de conceitos artísticos, reestruturando tanto o seu modo de fazer arte, como até mesmo a sua própria linguagem.

A conseqüência de todo esse processo é o surgimento de novas formas de produção de arte, com novos aspectos estéticos e conceituais, como a fotografia experimental, a vídeo-arte, a vídeo-instalação, a instalação multimídia e a arte digital. Construindo um novo campo de percepção, de linguagens livres de uma narrativa não-linear, cujas “representações” ultrapassam os limites das molduras das pinturas, descem dos suportes e pedestais das esculturas, ganham novos espaços fora dos museus e galerias, criam um novo jogo de interação ao espectador, buscando novas formas de percepções sensoriais em relações mais participativas e em constantes estados de re-interpretações, sendo seu principal objetivo a liberdade de experimentação técnica, estética e perceptiva.

Desirèe Melo

Artista e Pesquisadora do Grupo Comtempo (grupo de pesquisa, produção e discussão de arte contemporânea). Professora do Curso de Artes Visuais na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Gestora de Artes e Cultura da Secretaria de Estado de Cultura de MS.

Esse artigo é uma adaptação da pesquisa de minha autoria “Rupturas e Aproximações entre a Arte e o Design Gráfico” (2006) e tem como referência os escritos de Diana Domingues, Lúcia Santaella, Edmond Couchot e Lenara Verle.


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